Abri os olhos naquele sonho estranho. Eu voava, leve como uma pluma.
A cada mínimo movimento do meu corpo, dava cambalhotas,
piruetas, que delícia! Sempre quis
voar! O que me levou a ser piloto de
avião, mas, isso... Isso era totalmente diferente: eu estava livre!
Respirava lenta e pausadamente e o mundo parecia se mover em
câmera lenta. Coisas coloridas voavam ao
meu lado e eu via cores tão diferentes que me faziam sentir em um livro de
criança: laranja fosforecente, vermelho
sangue, roxo luminoso, verde intenso, rosa...
Era tudo tão lindo e tão mágico que me dava vontade de chorar, mas o
máximo que conseguia era ter um sorriso bobo nos lábios. Engraçado que eu podia ouvir as batidas do
meu próprio coração tão nítidas que parecia a marcação de uma música. Fora isso, eu não ouvia nada. Meu mundo onírico era muito silencioso.
Quando meus pés tocavam o chão, eu levemente flutuava de
novo, voltando àquele estado maravilhoso de levitação pré-voo. Me sentia uma astronauta na lua. Não... na verdade, a lua não era tão bonita
assim....
Meus cabelos voavam sedosos e leves como essas figuras de
deusas mitológicas nos quadros do Renascimento.
Nossa, eu estava realmente em êxtase!
Havia muitas pedras pelo chão e nas encostas e, sobre elas,
pedrinhas coloridas que se mexiam ao vento.
Parecia que dentro de cada pequena rocha havia milhares de olhos me
observando, curiosos. Eu devia estar
sendo uma figura engraçada de se ver.
Rindo à toda, dando piruetas, pulando, fechando os olhos e apenas
sentindo aquelas batidas... Qual tinha
sido a última vez que havia ouvido este som?
Nem me lembrava mais! E lá estava
eu... redescobrindo meu próprio coração!
Comecei a arriscar dar impulsos mais fortes, me projetando
para a frente, como havia visto em tantos filmes de super-heróis. E não é que a coisa funcionava? Voei por essas florestas estranhas, com seus
seres coloridos, curiosos e voadores.
Alguns voavam comigo, outros se escondiam... Outros apenas ficavam
indiferentes a minha presença.
De repente me dei conta que meus pés estavam bem
diferentes... Onde estavam meus
dedos? Pés gigantes que serviam como
motores para meus vôos, muito propício.
Percebi também que não conseguia falar porque havia algo na minha
boca... Um aparelho? Um tubo... conectado a uma garrafa. Estava tão admirada pela beleza que não
reparei que estava toda conectada por tubos e correias a uma enorme garrafa,
presa às minhas costas. Mas tudo era tão
sutil... Ao soltar uma gargalhada, vi
bolhinhas de ar subindo, subindo... até um local distante sobre a minha cabeça por
onde vinha a luz do sol.
Somente então percebi que não iria acordar. Eu estava simplesmente no fundo do mar e, o
melhor de tudo: não era um sonho.