quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Eu podia voar


Abri os olhos naquele sonho estranho.  Eu voava, leve como uma pluma. 
A cada mínimo movimento do meu corpo, dava cambalhotas, piruetas, que delícia!  Sempre quis voar!  O que me levou a ser piloto de avião, mas, isso... Isso era totalmente diferente:  eu estava livre! 
Respirava lenta e pausadamente e o mundo parecia se mover em câmera lenta.  Coisas coloridas voavam ao meu lado e eu via cores tão diferentes que me faziam sentir em um livro de criança:  laranja fosforecente, vermelho sangue, roxo luminoso, verde intenso, rosa...  Era tudo tão lindo e tão mágico que me dava vontade de chorar, mas o máximo que conseguia era ter um sorriso bobo nos lábios.  Engraçado que eu podia ouvir as batidas do meu próprio coração tão nítidas que parecia a marcação de uma música.  Fora isso, eu não ouvia nada.  Meu mundo onírico era muito silencioso. 
Quando meus pés tocavam o chão, eu levemente flutuava de novo, voltando àquele estado maravilhoso de levitação pré-voo.  Me sentia uma astronauta na lua.  Não... na verdade, a lua não era tão bonita assim....
Meus cabelos voavam sedosos e leves como essas figuras de deusas mitológicas nos quadros do Renascimento.  Nossa, eu estava realmente em êxtase! 
Havia muitas pedras pelo chão e nas encostas e, sobre elas, pedrinhas coloridas que se mexiam ao vento.  Parecia que dentro de cada pequena rocha havia milhares de olhos me observando, curiosos.  Eu devia estar sendo uma figura engraçada de se ver.  Rindo à toda, dando piruetas, pulando, fechando os olhos e apenas sentindo aquelas batidas...  Qual tinha sido a última vez que havia ouvido este som?  Nem me lembrava mais!  E lá estava eu... redescobrindo meu próprio coração! 
Comecei a arriscar dar impulsos mais fortes, me projetando para a frente, como havia visto em tantos filmes de super-heróis.  E não é que a coisa funcionava?  Voei por essas florestas estranhas, com seus seres coloridos, curiosos e voadores.  Alguns voavam comigo, outros se escondiam... Outros apenas ficavam indiferentes a minha presença.
De repente me dei conta que meus pés estavam bem diferentes...  Onde estavam meus dedos?  Pés gigantes que serviam como motores para meus vôos, muito propício.  Percebi também que não conseguia falar porque havia algo na minha boca... Um aparelho?  Um tubo...  conectado a uma garrafa.  Estava tão admirada pela beleza que não reparei que estava toda conectada por tubos e correias a uma enorme garrafa, presa às minhas costas.  Mas tudo era tão sutil...  Ao soltar uma gargalhada, vi bolhinhas de ar subindo, subindo... até um local distante sobre a minha cabeça por onde vinha a luz do sol. 
Somente então percebi que não iria acordar.  Eu estava simplesmente no fundo do mar e, o melhor de tudo:  não era um sonho.

domingo, 22 de setembro de 2013

Dança - a última fronteira


Corpos suados, ritmados, cansados.  Melodia, magia, beleza, alegria.  Ritmo, sensualidade, coreografia.  O baile.  O Zouk. 
Na dança não há idade, nem tamanho, nem raça, nem status.  O baile é de quem se arrisca, de quem sabe, de quem quer aprender, de quem erra, de quem sente, sua, dança.
A dança é a festa da música.  É a materialização de algo divino, algo intangível, algo que não se expressa em palavras, só em movimentos, só na arte.  Dança é arte.  É expressão.  É sentida, não descrita.  É ensinada e só se aprende quando a alma quer.  Pois é ela quem dança.  Livre, alegre, linda.
A dança é divina.  Nos transforma a todos em deuses.  Em mestres.  Donos da roda.  Donos do nosso nariz.  Nos une, nos aproxima, nos inebria.
Fui ao meu primeiro baile.  Estou em êxtase.  Como é possível?  Que magia maravilhosa; que energia sensacional.  Na pista, somos irmãos na paixão, companheiros na melodia, cúmplices na magia.
A dança é um caminho sem volta.  Vício sem cura.  Mudança de postura.  A dança toca você, te leva, mexe seus pés, seus quadris, seus ombros, todo o seu corpo.  Mas o que ela muda mesmo... é a sua alma.  Vem dançar.  Garanto que nunca mais vai querer parar.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Gotas de Suor


As gotas escorrem pelo rosto, passam pelo queixo e, antes que pinguem, são secas com o dorso da mão.  Não são lágrimas, são gotas de suor.  O corpo inteiro toca uma sinfonia harmoniosa para os treinados, desafinada para os iniciantes, mas a música é sempre a mesma e todos caminham na mesma direção.  A beleza da corrida é simples.  Ela é o lugar em que você está consigo mesmo, e ninguém mais.  Sim, você pode ir com um grupo de corrida, com uma caravana ou correr a meia maratona do Rio no meio de vinte mil inscritos, mas, na pista, é você, só você.  Na pista, você vai conseguir sentir as batidas do seu coração, vai perceber o ritmo da sua respiração, vai notar a infinidade de fibras musculares que trabalham naquele momento, sem parar, para levar o seu corpo adiante num esforço fora do cotidiano.  E essa música, ah, ou você vai amá-la ou, sinto dizer, vai odiá-la.  Porque a corrida é assim; é um esporte tipo “ame” ou “odeie”.  Não dá para expressar em palavras.  Mas eu garanto... Se você superar a dor do início, vai entrar num universo novo, sem volta. 
Cada portal de largada de uma corrida vai deixar você com nó na garganta e o coração na mais pura adrenalina, já esperando pela ação!  A energia de dezenas de milhares de pessoas em prol de um objetivo quase coletivo é indescritível.  Corredores são solidários uns aos outros, porque, no fundo, ninguém ali liga para a colocação em que ficou na prova.  Cada um sabe o que quer e o verdadeiro corredor só quer uma coisa:  superar a si mesmo.  Na corrida você provavelmente vai encontrar aquela pessoa que se curou de uma doença grave e hoje celebra a vida e a saúde; vai encontrar aquela que buscou nos grupos de corridas amigos e até um novo amor; vai encontrar o ex-fumante que hoje é atleta; a pessoa que ouviu do médico que nunca seria capaz de correr; o amputado (que tem lindas pernas de carbono e sempre me deixa comendo poeira!); o cadeirante, o cego, o surdo, o gordinho que já emagreceu 15 quilos, o executivo estressado, o senhor da terceira idade.  A corrida é democrática por natureza.  A pista é de todos.  Quando um atleta abandona a prova, é sempre com tristeza que eu sigo em frente.  Sei que, por dentro, ele está pensando:  “Eu fracassei, não consegui” e, secretamente, peço que ele não desista do seu sonho de completar a próxima prova.  Não raro batemos palmas durante uma prova e gritamos para incentivar uns aos outros.  A alegria contagia e as pessoas que observam se enchem por alguns segundo daquela energia fantástica, que flui como uma corrente imensa, e se estende pelos quilômetros por onde passamos.
A linha de chegada é o clímax onde se podem testemunhar as cenas mais lindas.  Corredores carregando corredores, pessoas emocionadas com sua própria vitória, ligando para familiares dizendo “Eu consegui!”, pessoas chorando, se abraçando e muitos, muitos sorrisos cansados. Por trás de cada corredor que termina uma prova tem uma história linda de sucesso, de conquista, isso eu garanto.  Cada um que cruza aquele portal quase mágico vence a competição mais difícil de todas, a superação dos seus próprios limites.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Pingos de chuva


Os pingos de chuva na janela fazem uma sinfonia das mais lindas que já ouvi.  Adoro dias de chuva.  As gotas no vidro me lembram lágrimas e dão a impressão que o céu também chora como a gente. Como eu.  E esse frio que parece congelar os pensamentos me enche de uma nostalgia de uma vida que não vivi.  Escolhi assim.  Sem marido, sem filhos, sem complicações.  
Amigos me falaram que era bobagem; que todo mundo precisa de alguém, que o amor se aprende com o tempo, com a convivência.  Por que não casar com aquele bom partido que vivia atrás de mim?  Eles não sabem mesmo de nada... 
Não sabem o que é uma tempestade de areia dentro de um coração vazio.  Um coração preso por um amor não correspondido.  Não sabem que alguns momentos podem, sim,  significar uma eternidade.  Que, às vezes, um segundo, um milésimo de um segundo, um sorriso pode significar uma luz maior que o Sol para quem ama.  A sua luz me cegou.
A força do Amor é avassaladora.  Ela entra, destrói e constrói com a mesma violência.  Ela dá e toma no mesmo movimento.  Quem disse que o Amor é dádiva?  Pois o Amor para os que não são amados é pura maldição.
Tenho 54 anos.  Nunca me casei.  Vivi na lembrança de um beijo, de uma lua-de-mel que acabou e deixou marcas eternas na minha alma.  Meu corpo buscou o seu corpo por décadas em outros lugares...  Outros encontros.  Mas nunca foram encontros verdadeiros, nada comparado ao que fomos, quando fomos um só.  Como reviver a Plenitude se você não está mais do meu lado?
Eu ainda tenho esperança.  Agora, mais na espiritualidade, pois o verdadeiro Amor não morre, não acaba.  Não vou desistir de buscar o que você me negou.  O que não teve coragem de viver.  Aquilo do que fugiu quando entrou naquele avião.
Queria voltar no tempo e agarrar suas pernas, grudar nos seus cabelos e nunca deixa-lo partir.  Se eu soubesse que aquela era a última vez que olharia no fundo dos seus olhos...  Mas você partiu e levou tanto com você...  Levou meu espírito, minha luz e minha fé.  Levou a melhor parte de mim.  E deixou o resto aqui. Deixou o que sobrou, os retalhos da nossa história que começou, mas nunca acabou.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Amplitude


Domingo, 14 horas, sol, cidade vazia.  Chego de viagem.  Coloco a mala no chão do apartamento de cinco quartos em uma das maiores metrópoles do mundo.  Dizem que 20 milhões de pessoas vivem aqui.  E, no meu apartamento de 400 metros quadrados só mora uma.  Ninguém mais.  Nem uma planta, nem um animal de estimação.  Eu não ligo.  Passo a maior parte do tempo viajando, então nem uma planta sobreviveria ao meu árido estilo de vida...  Eu já me acostumei... Mas às vezes, como neste domingo, às 14 horas, eu sinto um baque quase que ao mesmo tempo que bato a porta após uma temporada curta no exterior... Ninguém vem me receber, como sempre.  Ninguém me pergunta como foi a viagem, como sempre. 
Escolhi essa vida.  Divorciei-me há dez anos.  Nunca mais me casei.  Os casos com mulheres interessantes são fugazes como eu quero.  Elas querem sempre mais... Mulheres.  Mas eu mantenho a rotina.  É importante um homem ter seu ritmo, seu território, seu equilíbrio.  O divórcio me separou não só de um casamento infeliz, mas das minhas quatro filhas.  Todas do lado da mãe, na união natural das mulheres.  Incapazes de aceitar a infidelidade.  Como se fosse a elas que estivesse traindo.  Talvez estivesse...
As mais novas enfrentaram a família e vinham me ver no início.  As mais velhas ficaram anos sem falar comigo.  A culpa me consumiu durante todo esse tempo.  Mudei de país para fugir da vergonha e do meu reflexo envelhecido no espelho.  Mas aqui eles também tem espelhos.   Minha amante foi paciente.  Acreditou e acredita que ficaremos juntos.  Já temos 15 anos de relação, mas a verdade é que isso nunca vai acontecer.  Nunca mais vou enfrentar minhas filhas por mulher nenhuma.  Nunca mais.
Ela fica.  Mas acredita.  A escolha é dela.  Se quiser ficar, as regras são claras.  Mas, ainda assim, ela fica. 
A outra vive no meu país de residência e também tem quatro filhos.  Convenientemente, há uma hora de voo da minha casa.  Também não ficaremos juntos, mas ela acredita.
Alguns dizem que tenho pavor de compromisso, que tem a ver com minha infância de rejeição.  Não me importo.  Depois dos 50 anos, você finalmente compreende que tem menos tempo a frente de si do que para trás.
Às vezes vejo relances de vida.  Conheço pessoas fora da curva.  Mas... logo volto ao meu trilho.  Meu trem bala executivo que vai sempre em frente. Não posso parar.   O silêncio me fere.  A solidão faz sangrar as feridas.  A ausência do vento faz doer meus olhos cansados da idade e da tristeza cristalizada nas rugas do meu rosto.
Por isso gosto de bicicleta.  Corro o mais rápido que for possível.  Corro por qualquer pista.  Corro sem parar, por horas.  O movimento me entorpece, tal qual uma droga qualquer.  E mantém meus músculos tonificados e atraentes para mais mulheres me fazerem esquecer a solidão.
Gosto desses momentos com elas, mas nunca vou além.  Elas falam de futuro.  Eu sorrio e mantenho minha mente longe desses ideais.   Como prometer algo que não me pertence?  Sou só um andarilho.  Um nômade.  Nunca amei.  E, conforme a velhice se apresenta, compreendo.   Minha maior punição vai ser partir sem nunca ter conhecido o verdadeiro amor.

O Retorno

Estou de volta.  Com muitas novidades!

Descobri muita coisa... Que não devemos nos desviar do caminho por causa de pessoas que estão na trilha errada... Que não devemos pedir desculpar por sermos quem somos... E, por que para o blog?  Quem quiser leia, não leia, copie, arque com as consequências, odeie, ame... 
Só que agora, várias pessoas vão escrever aqui...  Não será mais um apanhado de crônicas cotidianas, urbanas, as vezes líricas... Vai ter tudo isso, mas de pontos de vista diferentes:  homem, mulher, jovem, velho, diferentes classes sociais, talvez raças, credos, profissões....  Todas as personas que existem...  E vocês vão conseguir diferenciar todas elas.
Às vezes serei só eu... Mas essa é fácil de matar... No bom sentido, claro!
E mais!  Quem quiser publicar, é só me falar que a gente vê. 
Entrem, leiam e participem.  O espaço agora é de muita gente, é nosso, é de todo mundo.  É um grande mural de ideias, desabafos, crônicas, o que for.
E ja começou!
Conheçam essa persona! 

domingo, 28 de agosto de 2011

And... this is the end!

Este é o fim do blog KILLING BILL NOW!  Uma nova fase se inicia...  Aguardem!